Thursday, April 26, 2007

cores contrárias

Somos feitos de cores contrárias
E existem todas as luas nos teus olhos.

Só tenho saudades de sentir os meus pés despidos
E poder tocá-los com as sete gotas que existem no universo.
São sete, todas as gotas que existem.
E tenho saudades das que não existem.
E transformar as saudades em sal, em todo o sal que existe.
E também no sal que não existe.
E transformar o sal em palavras.
Em todas as palavras do mundo.
Mesmo sem o dicionário dos amantes
Tu és todas as palavras que existem.

Wednesday, April 25, 2007

Quarto ao lado

Ás vezes, o prato injusto da vida serve-se frio e
deixa um sabor amargo na boca,
uma mão apertada que dói,
uma nuvem que parece não querer passar de véu,
um espaço que fica por preencher…

Ás vezes, olhamos o chão mais que o céu,
olhamos para trás mais que em volta,
olhamos da mão as costas em vez da palma,
olhamos a cara em vez da coroa…

Ás vezes, esquecemos que as folhas têm, sempre, dois lados…

Ás vezes esquecemos de sentar as recordações numa cadeira,
esquecemos que as constelações são feitas de matéria mineral,
esquecemos que não as podemos deixar secar…

Mas, um velho descansou-me que o meu nome se escreveria mais tarde,
talvez num livro de reclamações.
Disse ele baixinho,
e guardou numa caixa de música:
“ Não fiques triste… Podes chamar por mim. Estou num quarto aqui ao lado.”

Tráfico de Amores

Correntes de água abandonam passos dados por sombras legítimas e
escrevi o meu nome em papel mudo de palavras,
que em vez de gritar o meu, gritou o teu
perto de um quarto vazio de eco,
transbordando de segundos traficantes de amor.

Um segredo segredou-me que me virias despersonalizar…
Em vez de acreditar, edifiquei-me em ti e
preguei quadros na parede.
Enganei-me por ser humana…

Um dia, quero ser bicho e
revelar-me de sonhos naturais à Natureza.
Ser levada por chuvas e ventos fortes,
ser crua de amor, não possuir segredo
por apenas ser o visível,
insecto de asas já batidas…

Nó Cego

Encontrei uma palavra,
ao varrer o rés-do-chão,
numa poeira de letras que se nadavam pelo ar.
Sonho não da ponto sem nó.
E qual o meu espanto?!
Ilusão é um nó cego que se amarra na minha cave pensadora.

A chuva de verão fez de mim sol diamante
e fechou-me na minha própria vida.
Criei uma obra de arte prostituta,
droguei-me de confianças insuficientes.
Deambulei por cenários roubados e usei-os.
Não sei como, mas morri em cada um deles.
E nasci… em cada gesto pecador.
Telefonei a toda uma lista de preconceitos.
Matei toda uma água que me envenenou
apenas por a olhar e encontrar só versos transparentes…
Menti! Menti a todas as horas que fizeram de mim sala de visitas.

Agora, viajo de malas e bagagens para fazer estragos encantados noutra vida.
Vou amar cada passo que der em nós…
Vou dar um nó em nós…
Sem ser cego,
e dar ponto,
E fazer depois um laço secreto e grande.
Para só tu veres e desapertares se quiseres.

Por debaixo de tecto de ouro transparente

Por debaixo de tecto de ouro transparente.
De mão esticada para lá do longe.
De dedo a apontar o céu a que chego.
A feitiçar as cores.
E criando vento.
Cheiro a frio e silêncio.
Música do escuro que se abre para dois.
Onde a palavra ambos corteja as estrelas.

O espaço estende-se…

Despindo por todas as vontades que acreditam em ti,
embebedei-me daquele sabor que nos anula no meio e nos sobressai a sós.

Somos segredo…

Depois de me deitar em ti,
e assim ser navio adormecido,
só o som das tuas batidas me enlaça num sono exausto e profundo.
Despertador de olhares por infinito.

Preocupo o destino confessando seres montra da minha alma.